Como eu construí minha carreira na área de sistemas embarcados

Como eu construí minha carreira na área de sistemas embarcados

Neste artigo, eu compartilho com vocês leitores como eu construí minha carreira na área de sistemas embarcados, desde o início, ou seja, desde o meu ensino médio técnico, faculdade, cursos livres, pós-graduação e, principalmente, minhas experiências profissionais atuando em empresas as quais agregaram muito no meu conhecimento técnico e pessoal. 

Vou relatar todas essas experiências e, por fim, mencionar os conhecimentos necessários para se firmar e/ou destacar na área. 

A seguir, os tópicos deste artigo:

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1. Ensino médio técnico

Indubitavelmente, minha carreira começou no ensino médio técnico. Para àqueles que não conhecem este tipo de curso, refere-se ao aluno, idade entre 15 e 17 anos, que cursa o ensino médio juntamente com um curso técnico em qualquer área, porém no meu caso foi o de Automação Industrial com ênfase em Eletrônica no Colégio Radial.

Neste curso, eu tive meu primeiro contato com a eletrônica de modo geral, ou seja: lógica booleana, portas lógicas, mapa de Karnaugh, componentes eletrônicos, análise de circuitos digitais e analógicos, laboratórios com ensaios práticos, manuseio de instrumentos (multímetro, gerador de sinais, osciloscópio, ferro de solda, etc), projetos práticos, confecção de placa de circuito impresso e todas as disciplinas e atividades relacionadas ao curso de eletrônica.

Honestamente, para mim foi muito difícil iniciar este curso, pois vindo da rede pública de ensino, minha capacidade analítica era desfasada de colegas oriundos da rede privada, porém as disciplinas de física, química e matemática, auxiliaram-me a aprimorar e desenvolver este lado que até então eu havia pouco desenvolvido e é de suma importância na carreira de um engenheiro, projetista ou desenvolvedor.

No segundo e terceiro ano de curso, conforme os meses de curso se passavam e minha compreensão sobre esta área ia aumentando juntamente com os estudos, era fascinante compreender como a junção de dessas três áreas poderiam produzir tecnologias primordiais hoje em dia as quais eu estava aprendendo e que se tornaria mais tarde minha profissão.

Apesar de já se completar 18 anos da minha formação neste curso, pois eu me formei em 2003, eu lembro perfeitamente da sensação em construir, montar e fazer com que funcionasse o meu primeiro multivibrador astável, foi demais ter o “poder de criar algo” e ver operar conforme o esperado. Isto até os dias atuais me faz feliz e satisfeito. 

2. Cursos livres no SENAI

Paralelamente ao ensino médio técnico, graças a ajuda dos meus pais, eu realizei alguns cursos livres (conhecidos como cursos de prateleira) no SENAI Ary Torres, dentre eles: 

  • Manutenção de equipamentos eletrônicos módulo I e II;
  • Máquinas Elétricas.

Estes cursos foram muito importantes no meu bom desempenho no curso técnico, pois anteciparam alguns conceitos, somado a isto, eu tive a oportunidade de participar de várias atividades práticas em laboratório as quais foram e ainda são importantes até hoje, pois me ensinaram analisar circuitos e montá-los em uma protoboard, operar instrumentos de análise de sinais a fim de observar comportamentos e/ou encontrar problemas. Além disso, proporcionaram-me condições de ser mais competitivo no mercado de trabalho, pois foram fatores decisivos em processos seletivos com outros candidatos com mesma formação.

Eram épocas com pouco tempo para diversão, pois alguns cursos eu fazia durante a semana na parte da noite e outros eu fazia aos sábado o dia inteiro, aliado ao técnico pela manhã durante a semana, mas me ajudaram muito e com certeza eu faria tudo de novo.

Iniciei meus estudos na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC-SP) em 2006 no curso de Tecnologia em Mecânica de Precisão após ser aprovado no vestibular.

O nome deste curso pode parecer estranho para a maioria, mas é um sinônimo para mecatrônica, já que, possui disciplinas de projetos mecânicos, elementos de máquinas, CAD, hidraúlica, pneumática, processamento de sinais, eletrotécnica, programação, eletrônica, controle, etc. Para saber mais sobre o curso, acesse link.

Nessa fase da minha vida, eu já havia atuado em empresas e já tinha alguma experiência trabalhando com eletrônica, porém somente no setor de manutenção de equipamentos eletrônicos, essa experiência foi bastante rica pois aumentou ainda mais minha capacidade analítica (reforçando a boa escolha de ter feito os cursos no SENAI) e desenvolveu muito minhas habilidades manuais, ou seja, troca de componentes eletrônicos, verificação dos respectivos estados com multímetro e, principalmente, manuseio de ferro de solda e componentes S.M.D. (Surface Mounted Device), habilidades de extrema importância em departamentos de engenharia de desenvolvimento ou P&D os quais necessitam montar e/ou reparar protótipos dos mais variados tipos.

Como citado, estudei muitas disciplinas pertinentes à área técnica as quais somaram demais na minha formação profissional, sem falar naquelas básicas: Cálculo, Estatística, desenho técnico, Física (eletromagnetismo), etc. Entretanto, poucas de fato alimentaram minha carreira de desenvolvedor de sistemas embarcados, dentre elas: lógica de programação, eletrotécnica (pois no técnico eu não havia estudado), eletrônica (revisão de alguns conceitos) e miprocessadores, porém esta ficando muito na teoria e pouco na prática a qual se escorava em kits com Z80 e assembly. Ok! É importante aprender essa arquitetura e a linguagem, porém ficamos apenas nisto dois semestres consecutivos em pleno 2009, sem aprender linguagem C e uma arquitetura mais recente, entretanto, toda essa situação foi um combustível e alimentou a curiosidade em aprender mais e o que está sendo usando no mercado atual (na época) no desenvolvimento de produtos eletrônicos, este interesse e paixão por eletrônica me impulsionou para ser um desenvolvedor.

4. Experiências profissionais

Já em 2009, eu consegui graças a minha formação técnica, cursos complementares e por estar numa faculdade reconhecida, uma oportunidade como auxiliar técnico de projetos numa empresa de equipamentos médicos (bombas de infusão linear e rotativa) na zona sul de São Paulo.

Graças a esta oportunidade e também ao reconhecimento pelo meu interesse na área de projetos eletrônicos por parte do meu gestor, eu obtive a oportunidade em desenvolver minha habilidades em programação e em microcontroladores, todo esse aprendizado foi aproveitado na confecção de uma jiga de testes de um flat cable para um display, a fim de verificar a durabilidade. Desenvolvi todo o circuito, placa, programação do firmware e o resultado foi bem satisfatórios, principalmente para mim e também para o meu gestor o qual via meu empenho, dedicação e também por “criar” um novo desenvolvedor com custo zero no que diz respeito a investimento em capacitação técnica. Assim, eu tinha “comprado um ticket somente de ida para esta jornada em sistemas embarcados” e o meu contentamento era o maior possível. Durante esse período, eu também procurei por cursos de capacitação e cursei alguns em microcontroladores como, por exemplo, ARM Cortex-M3 e MSP430 na escola Tech Training, além disso, comprei livros sobre microcontroladores PIC, 8051, linguagem C e continuei aprofundando meus estudos juntamente com as disciplinas da falculdade e trabalho. Lembrando que tudo isso aconteceu em meados de 2010 e 2011, não era comum ou não existia plataformas de cursos on-line como o Hotmart, Udemy, Coursera, etc.

Bom, isso foi apenas o começo da minha jornada profissional, pois outras empresas e experiências estariam por vir, deste modo, listarei a seguir alguns ramos os quais eu já atuei:

  • Equipamentos médicos de manutenção à vida (Samtronic);
  • Equipamentos de energia (Estabilizadores de Tensão e No Breaks – Enermax);
  • Automação industrial (Schneider Electric);
  • Equipamento médico-estético (HTM Eletrônica);
  • Equipamento de segurança elétrica para área hospitalar (RD Mediq);
  • Rastreadores veiculares e de ativos (Quadrar Tecnologia).

Nos últimos dez anos eu passei por essas empresas e afirmo com certeza que cada uma delas agregou muito na minha formação e experiência profissional, diria que elas tem um peso maior do que os cursos os quais eu cursei, pois fui submetido a situações que, infelizmente no Brasil, ainda não é possível experimentar em salas de aulas de graduação, certas tecnologias e projetos. Por exemplo, na Samtronic foi a minha primeira oportunidade com desenvolvimento de projetos profissionais e também o compromisso com a qualidade, já que, os equipamentos eram de missão crítica, aprendi estruturação de dados, como periféricos de um microcontrolador são configurados, algoritmos, etc. Na Enermax eu pude desenvolver projetos desde o início e com novas tecnologias, isto me permitiu e me expôs a novas situações as quais abriram meus horizontes, ou seja, proporcionou-me uma visão macro de um projeto e como pensar em um código de uma maneira ampla. Na Schneider Eletric eu não atuei como desenvolvedor propriamente dito, mas no departamento de testes o qual me condicionou a explorar de todas as maneias possíveis como montar um ambiente de testes e por em prática em determinados equipamentos, além disso, possibilitou que eu compreendesse melhor dinâmicas de trabalho orientada a resultados precisos. Na HTM, eu carreguei essas experiências e voltei a atua como desenvolvedor de sistemas embarcados, trabalhando em projetos novos desde o início, em produtos de linha (otimização) e fui aprimorando o meu código, seja na estruturação e arquitetura, desenvolvendo com microcontroladores de 8 e 32 bits. Na RD Mediq, eu cheguei para auxiliar no desenvolvimento de um equipamento de segurança elétrica para dispositivos hospitalares, no meu caso que já possuía experiência nessa área não houveram surpresas, porém eu tive a experiência em desenvolver firmware escorado em normas técnicas pertinente ao ramo de atuação do dispositivo, isto para mim era algo novo e exigia muita atenção no cumprimento das regras para que o projeto fosse bem sucedido, nesta época eu já tinha muita noção da importância de um código muito bem estruturado, documentado e que fosse compreendido por qualquer desenvolvedor que pusesse a mão. Esta foi a primeira experiência no desenvolvimento de um projeto IoT (Internet of Things – Internet das Coisas), além disso, pude contribuir bastante no desenvolvimento do hardware. Por fim, na Quadrar Tecnologia, eu definitivamente aprendi muito e consolidei muitos conhecimentos adquiridos no decorrer dos anos, ou seja: aprendi e trabalhei com tecnologias GSM (2G e 4G), LPWAN (NB-IoT, LoRa, LTE-M, etc), trabalhei mais com design de hardware e implementei as melhores práticas de arquitetura de software em um projeto de rastreador de ativos, o melhor software para sistemas embarcados que eu já construí, seja pela codificação, organização, documentação, determinação de padrão de nomenclatura e, principalmente, para futuras implementações e reutilização deste código em outros projetos. Aqui eu tinha iniciado algo que somente em 2021 eu saberia o que viria a ser: meu curso de Arquitetura de Software para Sistemas Embarcados.

5. Pós-gradução

A pós-graduação que eu cursei foi de Especialização em Sistemas Embarcados no SENAI Anchieta, cujo início se deu em 2017. Nesta época, já possuía oito anos de experiência na área de desenvolvimento de sistemas embarcados, além disso, ter atuado na Quadrar cooperou para eu ter experiências e conhecimentos em protocolos de comunicação utilizados em IoT, tecnologias vigentes, etc. Então, no meu caso honestamente, não somou muito, mas o networking e o fato de conhecer histórias profissionais de outras áreas foi de grande valor, claro, pude rever assuntos que de certa forma retificou, sem falar no título de especilista.

6. Conclusão

Como vocês leram, a jornada não foi curta, ou seja, se for levar em conta o ano de início do meu curso técnico no Radial em 2001, já são vinte anos estudando e trabalhando com eletrônica diretamente.

Porém, gostaria de mencionar as principais lições (literalmente) que eu aprendi na minha formação como desenvolvedor de sistemas embarcados e recomendações de estudos para se tornar um bom desenvolvedor:

  • Se tiver a chance de cursar algum curso técnico em eletrônica, faça. Pois, além de adquirir conhecimentos em eletrônica, te ajudará muito na graduação, em trabalhos manuais e senso crítico;
  • Faça cursos livres na área de eletrônica, principalmente, aqueles que oferecem muitas aulas práticas (SENAI é uma grande opção – recomendo);
  • Monte circuitos em placas universais e pratique o máximo que puder soldagem, principalmente, SMD;
  • Linguagem de programação C, C++, Python e Assembly. Pratique o máximo que puder e aproveite ambientes de desenvolvimento on-line;
  • Estruturação de dados e algoritmos (pilhas, filas, etc), principalmente em linguagem C a qual é a mais usada em firmware para microcontroladores;
  • Aprenda sobre arquitetura de microcontroladores o máximo que puder, principalmente 8 e 32 bits;
  • Estude o funcionamento sobre os protocolos de comunicação, como: RS232, Modbus, 1-wire, I²C, SPI, UDP, TCP/IP, MQTT, etc;
  • Aprenda sobre segurança seja na comunicação de dados (SSL/TLS) ou na proteção de área de memórias (TrustZone);
  • Estude sobre padrões internacionais para desenvolvimento de código para sistemas embarcados como o MISRA, por exemplo;
  • Estude código de outras pessoas;
  • Estude sobre arquitetura de software e entenda as melhores práticas. Isto é fundamental hoje em dia, visto a grande demanda por novas features e requisitos, então ter um software que te auxilia em implementação é primordial. Aliado a isso e as boas práticas em desenvolvimento, eu criei meu curso de Arquitetura de Software para Sistemas Embarcados;
  • Estude sobre testes e desenvolvimento orientado a testes (T.D.D.);
  • Sistemas Operacionais de Tempo Real (FreeRTOS, NuttX, RTX, etc);
  • Linux embarcado;
  • Plataformas de IoT e tecnologia wireless, como: Bluetooth, Wi-Fi, LoRa, Sigfox e NB-IoT;
  • Último mas não menos importante: o inglês. Estude não somente para ler datasheet, mas para conversação, seja fluente.

Portanto, estas recomendações são o que eu acredito que te darão boas bagagens atuar com projetos de sistemas embarcados, claro que absorver tudo isto de uma vez é impossível, porém saiba que são assuntos que não podem ser deixados de lado, ok? Também não se pode deixar de mencionar o aprimoramento das habilidades interpessoais, principalmente, no que diz respeito ao ambiente de trabalho e clientes, como follow-up por exemplo, e também o interesse em conhecer mais sobre o mercado no qual atuamos, diria que é igualmente importante esses dois fatores, pois a evolução do profissional não se limita somente a parte técnica!

Boa sorte e espero que eu tenha agregado algo.

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